quinta-feira, 20 de agosto de 2015

O ENIGMA DA MENSTRUAÇÃO (BAJÉ) E SEUS TABUS NO CANDOMBLÉ- parte 1




ENIGMA DA MENSTRUAÇÃO

Segundo os nagôs ìgbómìnà, Ìrókò é um caçador por excelência e Ãbòyámã , sua irmã, a essência de uma terrível feiticeira (àjé). Ambos habitam as árvores que possuem o nome dos mesmos. Sempre que Ìrókò saía à noite, para perseguir animais, depositava os apreendidos junto à imensa apáòká que havia próxima à entrada da floresta. Tão logo se retirava do local para reiniciar a caçada, as Ìyá mi eléeiye se aproximavam dos animais abatidos e bebiam todo o sangue dos mesmos. Era assim todas às vezes que Ìrókò saía para caçar.

Ãbòyámã, sempre que Ìrókò retornava da caçada com animais totalmente dessangrados, ela indagava: ‘O que o leva a trazer somente animais sem sangue para nos alimentar?’ Ìrókò respondia-lhe da mesma forma todos os dias: ‘Isso não lhe diz respeito. Deixe de ser curiosa e se preocupe mais com os afazeres da casa, ao invés de se envolver em meus negócios’. ‘Isso é você quem diz. Vou insistir na resposta todas as vezes que você voltar da caçada’. Ìrókò em tom ríspido respondeu-lhe: ‘Água que não é de beber, deixe-a correr’. Diante do tom áspero do seu irmão, Ãbòyámã calou-se, todavia tal procedimento aguçou com mais intensidade o desejo de desvendar o enigma. Assim sendo, tão logo Ìrókò adormeceu sua irmã, após fazer três pequenos furos na sacola em que carregava seus objetos de caça (àpò-dòho), encheu-o de cinzas.

No dia seguinte, ao alvorecer, Ìrókò, sem de nada desconfiar, pegou seus objetos de caça, colocou-os dento da sacola e seguiu em direção à floresta. Ãbòyámã, que aguardava silenciosamente por esse momento, deu início ao seu plano e, sorrateiramente, começou a seguir a trilha deixada pelas cinzas que caiam do saco que continha os apetrechos de caça do seu irmão. Alguns passos da entrada da floresta, Ãbòyámã observou que Ìrókò deixou sua sacola aos pés de uma imensa árvore e, em seguida, adentrou a mesma, impedindo dessa forma de continuar-lhe seguindo. Ãbòyámã não esmoreceu. A vontade de desvendar todo aquele mistério era muito mais forte. Assim sendo, decidiu aguardar naquele local o retorno do seu irmão.

No final do dia, antes do anoitecer Ìrókò retornou do interior da floresta trazendo consigo os animais abatidos. Depositou-os aos pés da imensa árvore propiciatória, onde havia deixado o saco em que guardava seus apetrechos de caça. Horas depois, a escuridão tomou conta da floresta. Ãbòyámã, continuando às ocultas, aguardava o momento em que seu irmão dessangraria os animais. De repente, diversas aves emitindo gritos aterrorizantes começaram a revoar o topo da árvore onde os animais abatidos foram depositados. Logo em seguida, Ãbòyámã estatelada ficou ao ouvir uma das aves dirigir-se ao seu irmão: ‘Por que não vieste sozinho como das vezes anteriores? Ìrókò respondeu: ‘Mas eu vim sozinho’. ‘Se tu vieste sozinho como dizes, quem é aquela mulher escondida por trás dos arbustos?’; pergunto a ave. Ìrókò, ao ouvir tais palavras empalideceu. Totalmente desconcertado, olhou em direção aos arbustos, entretanto, nada viu. ‘Eu não sei de qual mulher estás falando. Não vejo ninguém por trás dos arbustos’; respondeu Ìrókò, olhando outra vez para o local de que ave havia falado. ‘Eu me refiro à Ãbòyámã, tua irmã’; disse a ave. Continuando o diálogo, a ave pronunciou-se: ‘Ela o seguiu desde que saíste de casa para caçar. Ela deseja saber o porquê dos animais, que você caça e leva para casa, não possuem sangue. Você, que está oculta atrás dos arbustos, saia daí imediatamente e se apresente’; continuou misteriosamente a ave a falar.

Apavorada, Ãbòyámã sai de detrás dos arbustos. Quando Ìrókò a vê, uma força estranha lança sua irmã aos pés da árvore do sacrifício. ‘Perdão, Senhoras dos Pássaros (Ìyá mi eléeiye). Eu não sabia que o sangue era para as senhoras’; clamou Ãbòyámã. ‘Uma mulher indiscreta deprecia sua família. Procedendo dessa forma, ela provou que não confia em você, tampouco o respeita. “Já que você deseja ver sangue, você verá em si mesma, pois o fluxo menstrual que não era eliminado por tua genitália, a partir de hoje, enquanto fores jovem, verás de trinta em trinta luas em si mesma’; pronunciou-se friamente a Senhora dos Pássaros”.

Notas:

1 - “Mãe que protege e dá continuidade às plantas”. FICUS ELASTICA. Existe a crença entre os nagôs ìgbómìnà de que a aludida árvore expele energia negativa e atrai o azar, servindo também, de moradia de espíritos errantes “èmí àrinkiri”.

2 - ARTOCARPUS INTEGRIFOLIA L f., Moraceae. “Apáòká” Em solo brasileiro foi substituída pela árvore denominada por jaqueira (também chamada de “tapónurin”).

Bibliográfica: PENNA, Antônio dos Santos - “Mérìndilogun Kawrí” - “Os Dezesseis Búzios” - Paginas 140 e 141 – Produção Independente – Ano 2009 (Edição Revista e Ampliada) – ISBN 978-85-902226-4-4.

 A MENSTRUAÇÃO, OS LIMITES E OS TABUS DE SER MULHER

A visão que a população possui em relação ao feminino é de paridade, pois como já foi dito acima, não há impossibilidade de ambos os gêneros assumirem cargos públicos, políticos, sociais ou profissionais. Por outro lado, essa assertiva tem limite de verdade, uma vez que para algumas profissões ela é valida até o período antes da menstruação, pois neste período somos consideradas perigosas devido à possibilidade de colocarmos em risco tudo o que está ao nosso redor, inclusive o homem em suas atividades profissionais, já que nesse período é considerada fonte da panema, de impureza. O perigo que a mulher menstruada pode gerar está ligado entre outros fatores com as atividades profissionais como a pesca e a caça, uma vez que elas não podem de maneira nenhuma passar por perto de quaisquer instrumentos utilizados por estes profissionais, pois se porventura vier a acontecer, estes instrumentos podem ser tomados por azar, ou seja, eles não vão mais ter a mesma eficiência ―o caniço, a rede, os anzol, os matapi não pega mais nada! Agente perde é tudo! No comercio seu Lulu dizia ―quando eu abro a mercearia fico temeroso de uma mulher ser a primeira do dia a entrar, porque se ela tiver menstruada, o lucro do dia vai ser péssimo‖. Isso faz com que algumas mulheres, durante este período, sejam afastadas, interditadas de várias tarefas e atividades profissionais, devido seu ciclo biológico.
Este afastamento temporário é considerado como tabu, pois se eleva do natural (biológico) para o social (simbólico), fazendo com que o gênero feminino seja excluído de diversas funções. Segundo Motta-Maués (1993) na sociedade  é justifica esse tabu como algo normal, pois a mulher menstruada é, de acordo com informações de pessoas da comunidade, instrumento de impureza, poluição e veneno que em contato com os outros seres (homem) pode ser o fator de panema (azar). Tal condição, na análise da autora, ratifica o status de sujeição feminino. 

 Nas religiões de matriz africana, de acordo com Landes as mulheres mães de santo do candomblé só poderiam assumir o maior posto sacerdotal após a menopausa, ―período em que a mulher vira homem‖. Em uma entrevista com Martinho do Bom Fim, Landes menciona: As mulheres são sagradas para os deuses quando no interior dos templos. Compreende? E se supõem que os homens sejam profanos pelas suas relações comerciais e com mulheres. Imagina-se que o sangue dos homens seja quente e isso é considerado ofensivo para os deuses, para quem as mulheres são preparadas. Martinho não se queixou do sangue quente das mulheres? Das jovens, sim. Ele acha que só devem ser sacerdotisas-chefes, mães, como são chamadas quando idosas e libertas de todo desejo e da menstruarão (LANDES, 2002, p.77). 174 Ver nota 105. 
Edison Carneiro (1991) quando descreve o candomblé também faz referências a importante presença feminina, pois segundo ele foram as grandes matriarcas quem fundaram esta religião em terras do novo mundo, e, ―antigamente o candomblé foi nitidamente um oficio de mulher‖ (p. 104).
 Eram elas (as yalorixás ou mães de santo) quem cozinhavam, ―enfeitavam a casa por ocasião de festas, superintendiam a educação religiosa de mulheres e crianças. Outro indicio está na marcada preponderância da mulher na história do candomblé (p. 104-105)‖. Essas matriarcas descritas por Carneiro (1991) são em geral mulheres idosas, ―respeitáveis, que cumpriam todas as suas obrigações como filhas durante várias dezenas de anos‖ (p. 105-106). Nesse sentido, apenas as mulheres idosas, isto é, que não menstruam é que podem assumir o sacerdócio e os postos elevados na hierarquia do candomblé, isso se deve entre tanto fatores pela menstruação que as torna impuras.
A esse respeito Roger Bastide (1978) menciona que mulheres menstruadas não podem fazer atividade nenhuma nas casas de santo, na verdade não podem se quer comparecer no espaço do terreiro quando menstruadas, pois as entidades tem horror do sangue expelido do corpo feminino quando do período das sangrias menstruais, segundo o mesmo: Mulheres menstruadas não devem nem mesmo assistir à festa, pois as divindades têm horror ao sangue catamenial; se uma delas ousa desobedecer, imediatamente os tambores o reconhecem, pois sua simples presença perturba o toque musical (BASTIDE, 1978, p. 25).



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