Percebemos que o complexo código de ética relacionado às
vestes dos praticantes do Candomblé, está sendo diariamente infringido, expondo
a nossa religiosidade de forma profana em meio à sociedade. Dessa forma, esse
artigo tem por objetivo, dirimir dúvidas de pessoas que não tiveram o acesso à
informação, sobre esse importante aspecto da nossa religiosidade.
Desatentos às hierarquias das indumentárias e vestimentas do
Candomblé, muitos participantes (talvez pela falta de conhecimento) estão
desrespeitando, não somente os seus mais velhos, mas também as nossas
Divindades. Isso ocorre, principalmente, com a chamada “carnavalização” dos
tradicionais paramentos dos Òrìsàs. A situação vem se agravando, ao ponto de
recriarem os trajes, implantando assim, uma nova maneira de vestir os Òrìsàs e
seus filhos, ignorando a tradições centenárias, originarias de uma Religião
milenar e, desrespeitando, de forma muito preocupante, a essência de cada
Òrìsà.
Com o cuidado de não ditar ou impor um código vestuário,
apontaremos abaixo, apenas algumas violações (as mais recorrentes) que
comprometem as tradições do Candomblé, descaracterizando de forma muito triste
a nossa religião, bem como, algumas recomendações da nossa Casa.
- ÌYÁWÓ
MOKAN: Uso indispensável
IKAN: Uso Indispensável
DILOGUN: Uso Indispensável:
“LAÇINHO” e “GRAVATINHA” ACIMA DO PANO DE COSTAS: Uso
Indispensável
ROUPA DE SIRE: Até completar um ano de iniciada, deve-se
dançar Sire de branco;
-ÌYÁWÓ DO SEXO MASCULINO
CALÇA DE RAÇÃO BRANCA (NÃO É TOLERAVEL JEANS, BERMUDA, ETC.)
CAMISA DE RAÇÃO (NÃO É TOLERAVEL CAMISA DE CRIOULA – USO
EXCLUSIVO PARA MULHERES, Também não se usa camiseta);
ÉKÉTÉ: – NÃO É TOLERAVEL O USO PANO DE CABEÇA – À exceção do
recebimento de Asè, em Oro);
- OGÁ (OGAN):
CALÇA DE RAÇÃO (NÃO É TOLERAVEL JEANS, BERMUDA, ETC.)
CAMISA DE RAÇÃO (NÃO É TOLERAVEL CAMISA DE CRIOULA – USO
EXCLUSIVO PARA MULHERES, também não se usa camiseta);
ÉKÉTÉ, CHAPÉU OU BOINA (NÃO É TOLERAVEL O USO PANO DE CABEÇA
– À exceção do recebimento de Asè, em Oro);
- EKEJI (EKEDE):
SAIA: Ekeji não usa saia com anáguas de baiana;
TOALHINHA: A cada dia é mais raro vermos uma Ekeji com uma
toalhinha para “enxugar” o Òrìsà.
- ADES, COROAS E PARAMENTAS DE ÒRÌSÀS:
DISCERNIMENTO E COERÊNCIA: Deve-se ter coerência ao vestir
os Òrìsàs (Nossos deuses são elementos da natureza, que utilizam representações
da natureza, POR ISSO NÃO DEVEM SER CARNAVALIZADOS);
MÁSCARAS: É inadmissível a utilização de máscaras na
confecção da Roupa dos Òrìsàs;
ALTURA DOS ADES: Deve se ter discernimento, coroas são
coroas e não paramentos carnavalescos gigantescos;
ÒSÀLÁ: ÒSÀLÁ SÓ USA BRANCO. Esse é um Òrìsà Fúnfún, não admite prata ou “azul clarinho”
PENAS.: Nossa religião é tribal, a utilização de penas na
confecção das roupas dos Òrìsàs deve ser ponderada e não excessiva;
SÀNGÓ: Não tolera roupas roxa ou preta, usa um saiote feito
de tiras e não uma saia;
- ÀSÈSÈ:
HOMENS: Calça, Camisa de Ração (brancos) e Ékété;
MULHERES: Saia de ração e camisa de crioula (brancas);
PROÍBIDO: Brilho, Bordados, Vazados e Roupas Coloridas;
- BATA:
QUEM PODE USAR: A utilização da bata é restrita as
autoridades femininas da Casa (autoridade máxima, Ìyálásè, Ìyákekère, Ìyámaye,
etc. – Se todas as Ègbón usarem batas, será impossível distinguir as
autoridades);
CUMPRIMENTO: Bata é Bata e não vestido! Um ditado
tradicional nos Candomblés da Bahia diz: Quanto Maior a Bata, Maior a
Ignorância da Ègbón;
- PANO DE CABEÇAS:
QUEM PODE USAR: A utilização do Pano de Cabeça é restrita
às mulheres. O pano de cabeça, poderá ainda ser utilizado por homens, em
obrigações internas em que o mesmo está “recebendo asè, como por exemplo
Bori”);
ABAS: As abas do Pano de Cabeça, estão relacionadas ao Òrìsà
da filha de Santo e a sua idade de santo (se seu Òrìsà for Oboro – masculino,
você não poderá usar duas abas, sendo que essa ficou para as filhas de santo,
que possuem Òrìsàs Ayabas – femininos);
ALTURA DO PANO: Deve-se ter discernimento ao usar o Pano de
Cabeças. O pano de Cabeças não é turbante com diversas voltas e de altura
desmedida; Seu pano de cabeça também não pode ser maior do que o da sua
Ìyálòrìsà;
PANO DE COSTAS:
QUEM PODE USAR: A utilização do Pano de Costas é restrita às mulheres.
UTILIZAÇÃO: O pano da costa deve ser colocado na altura dos
seios (somente as autoridades quando estão trajadas de Bata, podem usar o pano
na cintura);
USO TRASVERSAL DO PANO POR HOMENS: Indevido, à exceção das
festividades do Pilão e durante o Pilão de Òsògíyàn;
FIOS DE CONTA.:
AFRICANOS/CORAIS/PEDRAS: de uso exclusivo para autoridades
do Candomblé e as pessoas com obrigação de sete anos (obrigações arriadas);
BOLAS DE PLÁSTICO: Não pertencem ao Candomblé;
SAIAS:
QUEM USA: Uso restrito à mulheres (homem não usa saias, só
seu Òrìsà se for ayaba);
CUMPRIMENTO: A saia deve ser longa, cobrindo o calçolão (o
uso de saieta é cabível somente para Òrìsàs masculinos – em mulheres);
ROUPAS BRILHOSAS: A utilização de roupas com muito brilho
está condicionada ao Òrìsà e à determinados Òrìsàs (existem roupas para dançar
o Sìré e roupas para vestir os Òrìsàs, sendo que alguns também não toleram o
brilho);
BORDADOS: As roupas bordadas como Rechilieu, Asa de Mosca,
Roda de Quiabo e panos mais elaborados, são de uso exclusivo para autoridades e
pessoas com obrigação de sete anos arriada;
BRINCOS E PULSERIAS:
Ìyáwò de Òrìsà Oboro (Santo Masculino), não deve usar
brincos e/ou pulseiras.
Um (a) Ìyáwò aguardar
a conclusão de suas obrigações, para a utilização de determinadas vestes, não a
coloca inferior à ninguém, muito pelo contrário, mostra somente sua resignação
por um determinado período, em obediência às regras do Candomblé pelo seu Òrìsà.
O cumprimento desses interditos, confere ainda mais valor à obrigação de sete
anos, em que a então ìyáwò, poderá utilizar-se de outras indumentárias, estando
desta forma, em outra fase de sua missão religiosa (torando-se uma ègbón). No
Candomblé, todos os passos são galgados, assim como na vida, afinal, a criança
não nasce andando, existe um processo de aprendizagem. Uma mãe preservadora
resguarda sua filha das maquiagens até a idade certa, etc. Assim é o Candomblé.
Um Ogá não pode se sentir desprezado por não se vestir como
um Babalòrìsà, ele sim, deve se sentir orgulhoso em pode estar preservando a
cultura dos antigos Ogá. Um Oga vestido como Ogá, é facilmente identificado em
meio a multidão. O mesmo se aplica aos Babalòrìsàs, que não podem almejar as vestes
femininas, pois nesse caso, ao invés de mostrar poder e distinção, evidência
sua falta de conhecimento sobre a liturgia de cada elemento utilizado. Não temos
a intenção de ditar regras, mas sim, expor os costumes das casa de Candomblé,
aprendidos ao longo de gerações, divulgado e esclarecendo muitas pessoas que
jamais foram orientadas sobre como se vestir no Candomblé não cometeram tantos
erros.
Texto original: Fernando de Oxoguian- Axé Oxumaré.
Texto original: Fernando de Oxoguian- Axé Oxumaré.
Ò dábò!
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sigilo absoluto!!
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Babalorixa Ricardo de Laalu.
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