sexta-feira, 12 de julho de 2024

Conto - O Legado das Estrelas

 



O Encontro com o Passado


A história começa com Lúcia, uma jovem mulher que vive na agitada cidade de São Paulo. Ela trabalha como jornalista e está sempre ocupada com a rotina diária. Apesar de seu sucesso profissional, Lúcia sente um vazio crescente em sua vida, uma sensação de que falta algo mais profundo e significativo.

O Trânsito das Sete da Manhã

- São Paulo estava despertando para mais um dia frenético. Lúcia estava parada no trânsito, o brilho do sol da manhã filtrando-se pelas janelas do carro e projetando padrões de luz e sombra no banco do passageiro. O semáforo à frente estava vermelho, e a fila de veículos se estendia por várias quadras, uma sinfonia de buzinas e motores que parecia um reflexo da vida apressada da cidade.

Lúcia olhou para o relógio em seu pulso, um modelo clássico com mostrador dourado e ponteiros elegantes que parecia de outra era. 7h45 da manhã. O trânsito era apenas um dos desafios diários que ela enfrentava, uma parte inevitável da rotina que se havia tornado uma parte do seu ser.

Ela ligou o rádio, e uma música suave preencheu o silêncio tenso do carro. Era uma canção antiga, uma melodia que evocava memórias de um passado mais tranquilo. A canção a transportou para as tardes na casa de campo de sua avó, Dona Rosa. Naquelas tardes, Lúcia se sentava ao lado da avó, ouvindo suas histórias e sentindo um amor genuíno e caloroso que ela não encontrava em sua vida atual.

Finalmente, estacionando em uma vaga apertada perto do prédio do escritório, Lúcia entrou no edifício com um olhar cansado e resignado. O prédio de vidro e aço refletia o sol e as imagens dos prédios vizinhos, criando um labirinto de reflexos que fazia a cidade parecer um mosaico de sonhos não realizados.

No escritório, o ambiente era um redemoinho de atividade: jornalistas trocavam informações freneticamente, editores discutiam pautas e repórteres, como Lúcia, se moviam de um lado para o outro com pressa. A sensação de urgência no ar era quase palpável, uma corrida constante contra o relógio e as exigências do mercado.

Lúcia se sentou à sua mesa e abriu o laptop, mergulhando imediatamente em uma pilha de e-mails e tarefas. As palavras e imagens na tela eram uma mistura de atualizações de notícias e pautas para a próxima edição do jornal. Lúcia começou a digitar com uma precisão automática, as teclas do teclado fazendo um som ritmado que parecia um eco da sua própria rotina.

Durante uma pausa, Lúcia olhou pela janela para a cidade lá fora, observando as pessoas e os carros que passavam apressados abaixo. Ela se sentiu distanciada de sua própria vida, um vazio crescente no fundo do seu coração, uma sensação de que faltava algo mais profundo e significativo.



A lembrança da casa de Dona Rosa era um refúgio na mente de Lúcia. Ela fechou os olhos e, por um momento, podia se ver na varanda da antiga casa de campo, onde o ar era fresco e a paisagem era verde e tranquila. Dona Rosa a recebia sempre com um abraço apertado e um sorriso caloroso, suas mãos sempre estavam ocupadas preparando chá de ervas ou assando bolos caseiros que enchiam a casa com um aroma doce e acolhedor.

A casa de Dona Rosa era um lugar onde Lúcia se sentia em paz. As tardes eram passadas em conversas tranquilas, onde sua avó contava histórias de sua própria infância e dos antigos rituais e tradições que haviam sido passados de geração em geração. Dona Rosa tinha um jeito especial de transformar pequenas coisas em grandes lições. Ela ensinava Lúcia sobre a importância dos valores e das raízes, usando pequenas histórias do passado e as memórias de seus próprios antecessores.

“A sabedoria dos nossos ancestrais está nas histórias que contamos e nos rituais que seguimos,” Dona Rosa dizia com um olhar sereno. “Nunca se esqueça de onde você vem, Lúcia, pois isso te dirá para onde você deve ir.”


O Presente da Avó: O Caderno Antigo

Naquela noite, depois do trabalho, Lúcia voltou para seu pequeno apartamento no bairro de Pinheiros, um espaço minimalista e funcional que refletia a falta de conexão pessoal em sua vida. O apartamento estava organizado, mas havia algo de inacabado no ambiente, como se faltasse um toque de calor e amor que uma vez estivera presente em sua vida.

Enquanto passava por uma pilha de coisas para organizar, Lúcia se deparou com uma caixa antiga no fundo do armário. Era uma caixa de madeira simples, desgastada pelo tempo e coberta por uma camada fina de poeira. O toque da madeira fria trouxe de volta memórias de Dona Rosa e de suas tardes juntos, uma conexão com um tempo mais simples e mais feliz.

Ela abriu a caixa com cuidado, sentindo a poeira se dissipar como se o tempo tivesse parado para lhe permitir esse momento de descoberta. Dentro da caixa, deitada sobre um tecido de linho envelhecido, estava um caderno de capa de couro, seu material já gasto pelo tempo, mas ainda intacto. O caderno estava coberto por um símbolo antigo, um desenho que lembrava as ilustrações nas histórias que Dona Rosa costumava mostrar a ela.

O cheiro do caderno a fez lembrar das tardes na casa de campo, das conversas com a avó, e do amor e sabedoria que ela transmitia com cada palavra. Com um misto de curiosidade e apreensão, Lúcia começou a folhear as páginas amareladas, cada virada de página trazendo um eco das histórias e ensinamentos de sua avó.


A Carta de Dona Rosa

Entre as páginas do caderno, Lúcia encontrou um bilhete empoeirado, amassado, com uma carta escrita com uma caligrafia cuidadosa e cheia de afeto. As palavras da avó eram um convite para uma jornada de descoberta pessoal, um guia para que Lúcia pudesse conectar-se com suas raízes e entender a importância dos ancestrais na sua vida.

A carta dizia:

“Querida Lúcia,

Se você está lendo estas palavras, é porque chegou o momento de você buscar algo além da vida que leva. Nossas vidas são mais do que o dia a dia; elas são moldadas por aqueles que vieram antes de nós. Este caderno é um mapa para você encontrar a sabedoria dos nossos antecessores e seguir um caminho de autoconhecimento e crescimento espiritual. O que você procura está dentro de você, mas é preciso um guia para ajudar a desenterrá-lo.

Com todo o meu amor,

Dona Rosa”

Lúcia sentou-se no chão do apartamento, o caderno aberto diante dela, e começou a ler a carta da avó. As palavras de Dona Rosa ecoavam em sua mente, trazendo uma sensação de calma e esperança que há muito ela havia esquecido. A mensagem da avó era um farol de luz em meio à escuridão da sua rotina, um convite para explorar um caminho de autodescoberta e conexão espiritual.

Com a leitura do bilhete, uma sensação de paz a envolveu, e uma pequena chama de esperança acendeu-se dentro dela. Era a primeira vez em muito tempo que ela sentia um vislumbre de algo mais, um chamado para buscar um propósito mais profundo na vida. O caderno não era apenas um objeto antigo, mas uma ponte para um passado rico e uma nova jornada que a aguardava.

Ao folhear as páginas do caderno, Lúcia encontra anotações e símbolos estranhos, além de uma carta endereçada a ela. A carta revela que a avó de Lúcia tinha um dom especial para se conectar com os espíritos dos ancestrais e que, através de meditações e rituais, ela poderia acessar o conhecimento dos antecessores.

Lúcia começa a explorar as práticas mencionadas no caderno. Ela visita um antigo terreiro de umbanda, onde uma mulher idosa chamada Mãe Olívia reconhece os símbolos do caderno e a ensina a fazer meditações para se conectar com seus ancestrais.

O sol se pôs por trás da cidade, e a noite começou a envolver São Paulo em um manto de estrelas e sombras. Lúcia, agora com um coração cheio de expectativas e um espírito aberto à descoberta, chegou ao Templo das Estrelas, um terreiro de Umbanda situado na perifeira da cidade um bairro perigoso mas que os moradores rspeitavam todos os adptos do terreiro afinal muitos deles sempre que precisavam iam lá tomar um passe e ouvir um conselho das entidades. O local era um refúgio de paz no meio da agitação urbana, com uma aura que parecia fluir entre o mundo material e o espiritual.

Ao cruzar o portão do terreiro, Lúcia foi recebida por uma brisa suave que parecia carregar um aroma de ervas e incenso. As árvores ao redor do templo, com suas folhas verdejantes, sussurravam segredos antigos, e a luz das velas dispostas ao longo do caminho principal criava um caminho iluminado por uma tênue luz dourada.

Dentro do terreiro, o espaço era adornado com símbolos de espiritualidade e proteção. O altar central estava coberto com uma toalha branca imaculada, sobre a qual estavam dispostos objetos sagrados como velas, flores brancas, e imagens de Orixás. O ambiente estava envolto por uma atmosfera de tranquilidade, iluminada por uma suave luz de velas e luminárias que lançavam um brilho cálido e acolhedor.

Mãe Olívia, uma figura imponente e serena, estava vestida com uma túnica branca e adornada com colares de contas coloridas que refletiam a luz das velas. Seus olhos eram profundos e sábios, transmitindo uma paz que parecia emanar de uma fonte mais antiga do que o tempo.


A Preparação para a Cerimônia

Mãe Olívia orientou Lúcia que fosee tomar seu banho de ervas já preparado e colocasse suas roupas brancas para poder participar da cerimonia,  após o banho Lucia foi até um canto reservado do terreiro, onde se encontrava a mãe Olívia e um pequeno círculo formado por velas e ervas. O cheiro do incenso de rosas e mirra estava no ar, uma mistura de fragrâncias que estimulava um estado de meditação e reflexão.

Sente-se aqui, Lúcia, — disse Mãe Olívia com uma voz suave e cheia de autoridade gentil. — Hoje, você começará a se conectar com a sabedoria dos seus ancestrais.

Lúcia se sentou no chão, ajustando suas pernas para formar um assento confortável sobre a esteira que cobria o chão. A esteira estava adornada com símbolos de proteção e purificação, e as velas ao redor criavam um halo de luz ao seu redor.

Mãe Olívia começou a preparar os materiais para a cerimônia. Ela acendeu uma vela vermelha e uma branca no altar, suas mãos movendo-se com a destreza de quem realiza esses rituais há décadas. As chamas das velas dançavam suavemente, lançando sombras místicas nas paredes ao redor.

Vamos começar com um ritual de purificação, — Mãe Olívia disse, enquanto pegava um recipiente com água limpa e uma mistura de ervas sagradas. — Esse ritual ajudará a limpar sua aura e a preparar seu espírito para a comunicação com seus ancestrais.

Ela então fez um gesto simbólico, aspergindo a água em volta de Lúcia com um ramo de ervas. O contato da água com a pele de Lúcia trouxe um frescor que parecia limpar não apenas seu corpo, mas também seu espírito. O som suave das palavras que Mãe Olívia recitava era como uma canção antiga, uma oração que parecia reverberar em um nível profundo e intemporal.

Mãe Olívia iniciou o ritual de purificação, recitando cânticos e mantras que falavam de limpeza espiritual e proteção:

"Egun, que os espíritos ancestrais venham a nós. Que a luz do Orixá nos guie e que a sabedoria dos antigos ilumine o caminho de Lúcia."

As palavras flutuavam no ar como uma melodia suave, e Lúcia fechou os olhos, permitindo que a serenidade da voz de Mãe Olívia penetrasse em seu coração. Ela sentiu uma sensação de paz que estava além das palavras, uma conexão com algo maior e mais profundo.

Depois de terminar o ritual de purificação, Mãe Olívia conduziu Lúcia em uma meditação guiada. Ela fez com que Lúcia se concentrasse na respiração, inspirando profundamente e expirando lentamente, enquanto suas palavras ajudavam a mente de Lúcia a se acalmar e a se abrir para a experiência espiritual.

"Visualize uma luz dourada ao seu redor, Lúcia. Imagine que essa luz é a proteção dos seus ancestrais. Eles estão aqui, ao seu redor, prontos para guiá-la e apoiá-la em sua jornada."

Enquanto Lúcia mergulhava na meditação, ela sentiu a presença de uma energia suave e reconfortante. Era como se a luz dourada imaginada por Mãe Olívia realmente estivesse ao seu redor, envolvê-la em uma aura de proteção e amor.

Com a mente tranquila e o espírito aberto, Lúcia começou a sentir uma presença espiritual. Ela viu imagens fragmentadas e visões de pessoas antigas, figuras com rostos conhecidos de suas histórias e contos de família. Essas visões eram acompanhadas por um murmúrio de vozes suaves, como um coro distante de memórias e sabedoria.

A experiência era profundamente emocional para Lúcia. Ela viu sua avó, Dona Rosa, em uma visão clara e vibrante, a imagem da avó estava cheia de vida e alegria, como se ela estivesse sentada à sua frente, sorrindo e esperando para falar.

Dona Rosa parecia estar comunicando algo para Lúcia, e embora suas palavras não fossem claras, a sensação que Lúcia recebeu era de amor incondicional e encorajamento. A presença de Dona Rosa trouxe um conforto profundo, um sentimento de que ela não estava sozinha em sua busca e que suas raízes estavam firmemente plantadas no solo da história e do espírito.

Após a meditação, Mãe Olívia sentou-se ao lado de Lúcia e começou a falar sobre o que eles haviam experimentado juntos.

"Os ancestrais estão sempre conosco, Lúcia. Eles vivem nas memórias que carregamos e nas histórias que contamos. Você recebeu conselhos e mensagens que são preciosos. Agora, é hora de refletir sobre o que você sentiu e como essas mensagens podem guiá-la."

Lúcia contou a Mãe Olívia sobre suas visões e sentimentos, e Mãe Olívia escutou atentamente, fazendo perguntas e oferecendo interpretações baseadas nas tradições da Umbanda.

"Os espíritos lhe mostraram amor e esperança porque você está no caminho certo," Mãe Olívia disse com um sorriso caloroso. — "O que você deve fazer agora é levar essa luz com você, e permitir que ela guie suas ações e suas decisões."

Antes de encerrar a cerimônia, Mãe Olívia fez uma última oferenda no altar, uma pequena cerimônia de agradecimento aos Orixás e aos espíritos ancestrais. Ela acendeu uma vela de cada cor dos Orixás principais e fez uma prece de gratidão.

"Que os Orixás protejam e guiem Lúcia em sua jornada. Que ela encontre sabedoria e força nas tradições de nossos ancestrais."

Lúcia se sentiu renovada e inspirada. O peso do vazio que sentia anteriormente havia sido substituído por uma sensação de propósito e conexão. Ela sabia que estava apenas começando sua jornada espiritual, mas agora ela sentia que estava começando a entender seu lugar dentro de um legado maior.

Continua...


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