A
IMPORTÂNCIA DO SACRIFÍCIO NA LITURGIA RELIGIOSA
AFRO-BRASILEIRA
Imolação
de animais consiste em uma prática corriqueira nas religiões
afro-brasileiras.
Basicamente,
são imolados animais chamados de “dois pés” (aves como pombas e galináceos) e
de “quatro pés” (ovinos, suínos, bovinos e caprinos).
DIREITO
LITÚRGICO, DIREITO LEGAL:
Desses
animais possui um investimento simbólico e litúrgico imprescindível
para a
teogonia e liturgias próprias do contexto religioso afro-brasileiro.
Dado
que as religiões afro-brasileiras são religiões de iniciação, e não de conversão,
a imolação de animais é parte integrante desse processo e serve
também para realizar uma comunicação e troca de benefícios
religiosos entre os adeptos e as entidades (serviços e “trabalhos”,oferendas
e agradecimentos, etc), sempre obedecendo a regras específicas
e sofisticadas, ditadas pela tradição e marcantes nesses rituais.
Somado ao transe possessivo, o sacrifício de animais consiste em um
dos pilares destas religiões (Goldman, 1984). Não obstante, o sacrifício deve
sempre ser reconhecido enquanto um fenômeno social que mobiliza diferentes
atores com fins específicos, social
e legitimamente construído. As trocas simbólicas advindas desse
fenômeno são parte integrante do código de sentido oferecido
por
tais religiões para seus adeptos.
Nas
imolações realizadas nas religiões afro-brasileiras, o destino mais peculiar
da carne do animal consiste na alimentação, que também pode
ser percebida como parte do ritual. Não por acaso se utiliza o termo
ioruba ebó para se referir ao sacrifício, expressão que pode
ser
traduzida por “comida” ou “comer”. A transformação do animal sacrificado
em alimento também agrega uma dinâmica maior de
solidariedade entre os atores envolvidos no ritual, pois todos podem
usufruir o banquete, mesmo que levem um pedaço da carne para
casa. Na visão de diversos adeptos, este ato permite que se espalhe
o axé (uma espécie de energia, que pode ser traduzida em termos
maussonianos de mana) para muitos lugares e entre várias pessoas.
A
cozinha é em um lugar sagrado, portanto a entrada e restrita, apenas as Agbas e suas auxiliares tem permissão. Na cozinha e preparado as carnes dos animais sacrificados e os alimentos que irão acompanhar o banquete.
Nesses
rituais, existem animais específicos para serem imolados para orixás específicos
e por motivos específicos. Até hoje, são rituais marcados por uma aura de mistério,
pois dificilmente um terreiro os realiza
de forma pública, e aqueles que eventualmente assim o fazem, raramente
deixam não iniciados presenciarem todos os eventos do
ritual.
O
sangue (Ejé) é um elemento crucial e a ele são atribuídos diversos sentidos.
Quanto mais sangue, mais sagrado é o ritual, e existem diversos rituais de
iniciação, até o ritual final de “aprontamento”. O bori é um dos primeiros.
Este presenciado, em particular, permitiria que os filhos-de-santo se
“purificassem” o suficiente para começar a “trabalhar” no terreiro, , Goiânia,
v. 5, n. 1, p. 129-147, jan./jun. 2007 132 incorporados de suas entidades. Seus
corpos e sua mente estariam prontos para “trabalho” tão sagrado: o volume de
sangue e outros materiais presentes no sacrifício é expressivo; desta forma, os
deuses são constrangidos, obrigatoriamente, a responder ao apelo feito pelos
homens, a estabelecer a referida relação de comunicação. Os deuses são
‘forçados a comer... é a sua carne’, ou seja, é a parte que lhes cabe neste
repasto divino/ profano (ÁVILA, 2006, p. 22). Tal aspecto estabelece,
inclusive, uma dinâmica de dádiva entre deuses e humanos (MAUSS, 1988).
Agamben
(2002), claramente inspirado em Dürkheim, apontou para a “teoria da ambigüidade
e da ambivalência do sacro”. No respeito religioso existe algo de horror e de
temor, e o próprio sagrado pode se referir a coisas fastas e a coisas nefastas,
e ele próprio oscila entre estas duas categorias: “a vida insacrificável e,
todavia, matável, é a vida sacra” (AGAMBEN, 2002, p. 91). Assim, a vida animal
em si não é sagrada. Por mais que alguns discursos proclamem que o animal é
sagrado porque já se encontrava em ligação com os deuses ou coisa que o valha,
o que é sagrado de fato é o ritual que dispõe desta vida animal. O que investe
o animal de sacralidade é o ritual. Sua carne só adquire mana (ou axé), por
causa dele, do contrário qualquer carne animal seria sagrada. A vida
insacrificável é a do ser humano. Esta sim é matável, já que sacrificar é absolutamente
diferente de matar. Os investimentos simbólicos atribuídos a ambas as ações são
de naturezas distintas. Por isso, direito e sacrifício correspondem a
instâncias de difícil aproximação. Nos rituais de sacrifício afro-religiosos, a
vítima animal tem a clara função de servir como mediadora entre o mundo daqui e
o mundo espiritual, ou seja, cumprindo uma função sagrada. Sem embargo,
sagrados são também o sacerdote sacrificador, o lugar do sacrifício e os
instrumentos utilizados para este fim. Não por acaso, no discurso de diversos
religiosos afro-gaúchos, o sacrifício não é tomado como tal, mas sim como uma
sacralização (ÁVILA, 2006), mesmo porque estas pessoas devem conceber
instrumentos simbólicos e discursivos para lidar com o preconceito e com a
perseguição social a seus credos e liturgias, percebidos em rótulos que recebem
do tipo “sacrificadores de animais”.
A Constituição da Brasileira garante a liberdade religiosa como direito
e garantia fundamental, positivando o principio em seu art. 5º, VI. O texto
constitucional também protege a manifestação da cultura afro-brasileira,
indígena e popular no art. 215 §1º. Por outro lado, a Carta Magna protege a
fauna e a flora vedando às práticas que submetam os animais a crueldade (art.
225 §1,VII). Então devemos estar atentos aos nos direitos e deveres.
No Candomblé não tiramos uma vida simplesmente, a imolação e um ato sagrado e um sacrifício (sacro-oficio), através da imolação alimentamos a energia dos Orisas e de nossos Ancestrais, aliviamos assim o nosso carma e o Axé contido na carne nos alimenta, a nossos irmãos e amigos.
Na iniciação deixamos para trás através de rituais e Ebòs nossa vida mundana cheia de cobranças e defeitos e renascemos para o Sagrado e puro, por isso a imolação e necessária para termos essa energia pura dos animais em troca da nossa morte. Não há iniciação sem a Imolação!
Referências:
AGAMBEN,
G. Homo sacer: o poder soberano e a vida nua I. Belo Horizonte: Ed. da UFMG,
2002. AGAMBEN, G. Estado de exceção. São Paulo: Boitempo,
2005. ANDREW, N. Review of the literature on the “state of exception” and the
application of this concept to contemporary politics. Disponível em: .
Indexado em: 03.03.2005. Acesso em: 23 nov. 2006. ARENDT, H. Entre o futuro e o
passado. São Paulo: Perspectiva, 2000. ÁVILA, C. A. de. Apanijé (nós matamos
para comer): uma análise sobre o sacrifício de animais nas religiões
afro-brasileiras. TCC (Monografia do Bacharelado em Ciências Sociais) –
Departamento de Antropologia Social, Universidade Federal do Rio Grande do Sul,
2006. DERRIDA, J. Fuerza de ley: el fundamento místico de la autoridad. Madrid:
Tecnos, 1997. DURKHEIM, É. O suicídio: estudo sociológico. Rio de Janeiro: J.
Zahar, 1982.
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